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Sunday, June 23, 2013

O romance e o romantismo

'Nenhum olhar' foi o primeiro romance que escrevi, quando eu o escrevi não tinha a certeza que era capaz de escrever um romance, e isso fez com eu fosse escrever o que tinha dentro de mim há muito tempo foi o que José Luís Peixoto disse numa entrevista (link aqui) na qual resumiu um pouco do "por quê" de vários livros publicados, entre eles O cemitério de Pianos, Nenhum Olhar, Uma casa na escuridão e Antídoto. Os primeiros romances portugueses contemporâneos que li foram de José Luís Peixoto e penso que ele se destaca pela maneira terrível que escreve, pela sua percepção claustrofóbica do tempo e sobretudo pela sua originalidade e os seus mecanismos complexos de intrigas. Noutra entrevista sobre o seu livro chamado Livro (link aqui), ele explica o por quê de escrever obras em romance, Eu acho que pela natureza do próprio género o romance aspira toda essa complexidade ao nível da profundidade das personagens e enredos, porque o romance tenta imitar a vida, e a vida é particularmente complexa, e muitas vezes contraditória e paradoxal
O romance ganhou importância com o romantismo, este género de narrativa é como uma epopeia mas simplificada, o que a epopeia faz é contar uma história como num romance mas num poema muito grande, um grande exemplo é Os Lusíadas de Camões, o que os românticos decidiram fazer foi teatro e narrativas quebrando as regras formais deixando a linguagem solta como falada, e os primeiros romances surgem com o romantismo, daí o nome. Para os se estão a perguntar o que é o romantismo, não confundam romantismo com a conceção atual da palavra Romance ou Romântico, não tem muito haver, o romantismo foi um movimento literário que teve a sua hegemonia no século XIX extremamente emocional e crítico, era a expressão da liberdade, do individualismo, do nacionalismo e do liberalismo, valorizava o sonho e a fantasia. Em Portugal fez-se o culto à idade medieval porque ela é a base das sociedades europeias actuais, e na minha recente pesquisa descobri que no Brasil como não haviam nem donzelas nem cavaleiros medievais optou-se pelo culto do índio que me parece ser uma figura ideal para fazer o culto à liberdade. 
A liberdade guiando o povo
O romance é atualmente, pelo menos eu acho, uma das formas mais "importantes" de fazer literatura, apesar de não haver um movimento literário forte como houve no século XIX, hoje os escritores gostam de ser romancistas porque é uma forma simples e complexa de escrever, é tal como a vida, como diz Peixoto, por um lado podemos escrever em prosa o que nos faz adquirir uma enorme flexibilidade, não há que pensar em rimar ou na métrica como na Epopeia, por outro, essa flexibilidade é uma porta aberta à imaginação, normalmente os romances estão divididos em capítulos, mas podemos dividir o nosso livro como nos apetecer, no livro Cemitério de Pianos de Peixoto o tempo para além de estar dividido em quilómetros o autor abre um buraco no tempo e ora fala de uma geração ora de outra chegando a interromper frases. Além disso os temas são infinitos, o espaço, o tempo, as personagens, narrador são existências tão variáveis, cada um pode fazer o que quiser, e como quiser. 

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